A Assembleia Legislativa do Paraná recebeu na manhã desta quarta-feira (23) uma reunião entre o Conselho Estadual de Saúde do Paraná (CES-PR), a Comissão e o Bloco Parlamentar Temático de Saúde Pública para debater a eficácia e a obrigatoriedade da vacinação contra a Covid-19. O encontro foi solicitado pelo próprio órgão colegiado após os deputados Ricardo Arruda (PL) e Marcio Pacheco (PP) questionarem a eficácia e a obrigatoriedade da vacinação contra a Covid-19 para crianças durante discursos na tribuna da Alep.
Cerca de 20 dos 38 membros do CES-PR compareceram ao Auditório Legislativo – a entidade é composta por usuários, gestores, trabalhadores e prestadores de serviços da saúde no Paraná, no setor público e privado. Eles foram representados na mesa pelo presidente do órgão, Fábio Stahlschmidt. Compuseram a mesa ainda o presidente da Comissão da Saúde Pública, Tercilio Turini; e os deputados integrantes Márcia Huçulak (PSD), presidente do Bloco Temático de Saúde Pública; Dr. Leônidas (CDN), Luis Corti (PSB), Márcio Pacheco (PP) e Pedro Paulo Bazana (PSD). O deputado Ricardo Arruda (PL) também fez parte.
O encontro foi uma oportunidade para a entidade e os parlamentares marcarem suas posições sobre os temas.
Nota de repúdio
A CES-PR entregou uma nota de repúdio, aprovada por unanimidade pelos conselheiros no fim de março, indicando que falas proferidas por Arruda e Pacheco “ignoram evidências científicas, colocando vidas em risco e fomentando desinformação sobre a imunização infantil”. O texto destaca que a imunização é segura e eficaz e que a recusa individual compromete toda a população. Cita ainda, entre outras coisas, que as falas não têm base científica e ampliam a hesitação vacinação, o que faz ressurgir doenças erradicadas.
Segundo Stahlschmidt, há um efeito dominó: questionar a imunização da Covid-19 gera desconfiança sobre as demais. “Expõe a população a riscos desnecessários, compromete políticas públicas e investimentos na saúde”, destacou. Ele apontou ainda dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) que indicam, devido à vacinação ampla, uma redução de três milhões de mortes por ano.
O deputado Tercilio Turini (MDB) destacou um artigo publicado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) no último ano no qual a vacinação contra a Covid-19 é recomendada por 85% dos pediatras entrevistados – num universo de 980 médicos. “Eu sou totalmente favorável e sempre recomendei”, ressaltou o deputado.
Huçulak, proponente da reunião, relembrou sua experiência como secretária de Saúde em Curitiba durante a pandemia de Covid-19. “Entre as capitais com mais de um milhão de habitantes, tivemos a menor taxa de letalidade. As curvas [epidemiológicas] mostram: quando começamos a vacinar idosos, eles pararam de morrer”, frisou. “É uma lástima que essa casa de leis sirva de pessoas que subam na tribuna sem conhecimento de metodologia científica ou como se elabora uma vacina”.
Deputados questionam obrigatoriedade
O deputado Ricardo Arruda repudiou a posição do CES-PR. “Eu sou favorável a todas as vacinas, mas não a esse experimento, que nem vacina é”, rebateu, se referindo ao imunizante contra a Covid-19. Para além de criticar a obrigatoriedade, o parlamentar acredita que o imunizante é ineficaz, gera problemas de miocardite, pericardite e morte súbita. Arruda acredita que os problemas são os imunizantes fabricados com RNA mensageiro, tecnologia utilizada para a produção da vacina Pfizer. O parlamentar citou estudos que embasam suas opiniões, como o livro The Pfizer Files.
Márcio Pacheco (PP) frisou que a sua oposição é restrita à obrigatoriedade, ressaltando que é favorável à realização de campanhas e a recomendação do imunizante contra a Covid-19. No entanto, ele crê que é justamente a obrigatoriedade que gera a hesitação vacinal – quando há recusa ou atraso para se vacinar quando o imunizante está disponível. “Os pais estão com medo da vacina do Covid-19 e estão deixando de fazer as outras vacinas também”, afirmou.
O deputado criticou ainda a cláusula, prevista em contratos firmados com laboratórios que produzem imunizantes, que prevê isenção de responsabilidade das fabricantes em casos de morte ou outras complicações decorrentes da vacina. “Aqui está o foco, as pessoas tem medo do que não está claro”.
Dr. Leônidas ressaltou que a vacinação contra o coronavírus é eficaz e contribuiu para a queda de óbitos. Mas, concordando com Pacheco, questionou a obrigatoriedade do imunizante para crianças. “A discussão é: eu sou obrigado a vacinar meus filhos? [A vacina contra a Covid-19] é diferente de outras vacinas, as quais nós sabemos as reações e que estão bem estabelecidas”, afirmou o parlamentar. “Apenas o tempo vai sedimentar todo esse conhecimento”.
Hesitação vacinal
O deputado Bazana também ressaltou riscos de queda nas taxas de imunização de outras doenças por conta das falas antivacinação. “Por causa de alguns políticos, os pais deixam de vacinar contra a pólio, coqueluche e outras doenças. Tem muita gente morrendo e muito pai deixando de vacinar o filho por conta desse tipo de opinião”, afirmou.
“A vacina foi produzida pela ciência. É evidente que surge um estudo hoje e amanhã aparece um outro em contradição”, ponderou o deputado Luís Corti, destacando que a existência de efeitos colaterais está presente não só na vacina, mas em todos os medicamentos. “Antes da vacina, cinco mil pessoas morriam de Covid-19 por dia no Brasil. O efeito dela é inegável”.
Fonte: ALPR PR