Após 60 anos fizeram justiça por toda a violência que meu avô sofreu no cárcere. A declaração é da deputada estadual Luciana Rafagnin (PT) ao destacar na tribuna do plenário, na sessão desta segunda-feira,14, a emissão da nova certidão de óbito atualizada de seu avô Leopoldo Chiapetti, falecido em 1965.
Na nova versão do documento, emitida pelo Ofício do Registro Civil das Pessoas Naturais, de Erechim, Rio Grande do Sul, consta a informação de que ele teve “morte não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro no contexto da perseguição sistemática à população identificada como dissidente política do regime ditatorial instaurado em 1964. “A mudança atende a uma resolução do Conselho Nacional de Justiça de 13 de dezembro do ano passado.
“Emoção muito grande para nós e para minha tia Leda, que na última sexta-feira, foi até Erechim para receber o documento, que reconhece oficialmente a verdadeira causa da morte: tortura e violência de Estado durante a ditadura militar brasileira”, conta Luciana.
Leopoldo Chiapetti, agricultor, líder comunitário e ex-subprefeito do distrito de Mariano Moro, no Rio Grande Sul, foi preso no dia 30 de abril de 1964 sob acusação de integrar o Grupo dos Onze, organização política de base ligada ao ex-governador Leonel Brizola. Detido em Severiano de Almeida e depois transferido para o Presídio Regional de Erechim, foi submetido a intensas sessões de tortura física e psicológica, conta a família.
Mesmo internado sob custódia policial, Leopoldo não resistiu às sequelas. Seu falecimento foi registrado em 21 de maio de 1965, com a causa da morte atribuída, na época, a “choque operatório” — versão que nunca foi aceita pela família.
O caso de Leopoldo Chiapetti foi reconhecido oficialmente pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) em 2004. Desde então, a luta da família seguiu para que a certidão de óbito refletisse a verdade dos fatos.
“Durante décadas, minha avó silenciou por medo. Minha família carregou essa dor calada. Agora, parte dessa dor se transformou em justiça. Essa conquista é para nós, mas também para todas as famílias que foram vítimas do regime militar e que ainda lutam por memória, verdade e justiça”, conclui Luciana.
Fonte: ALPR PR