Toda pessoa que tenha ingressado na área da Cultura do Estado nos últimos 25 anos, de secretários a estagiários, com certeza passou pela mesa dela pelo menos uma vez. Seu nome é Marcela Llorente Aguilera, 62 anos, chilena de nascimento e brasileira de coração.
Neste mês das mulheres sua história merece destaque porque, como chefe de Recursos Humanos da Secretaria da Cultura, exerce uma liderança forjada na ternura e, em uma rotina que poderia ser extremamente burocrática, consegue injetar altas doses de humanidade junto àqueles que fazem a roda dos filmes, livros, shows e exposições girar.
O início da trajetória de Marcela nos quadros do governo estadual remonta ao ano de 1984, quase quatro décadas antes. Nascida em Santiago, chegou em Curitiba com a família aos 16 anos. A mudança trouxe um novo ritmo de vida para a jovem. Terminou o ensino médio no Colégio Medianeira e logo ingressou na faculdade de Economia da FAE.
Um dia, ao ir ao consulado chileno com a mãe, por meio de um conhecido conterrâneo, ficou sabendo de uma vaga de estágio na Secretaria de Administração do Paraná. “Pegamos um táxi para a Secretaria, que ficava onde hoje é o Museu Oscar Niemeyer. Conversamos, gostaram de mim e comecei a trabalhar”, conta.
Um ano depois, surgiu uma vaga de auxiliar administrativa e veio a efetivação. “Até hoje o meu vínculo é com a Secretaria de Administração. Faz 39 anos que eu sou servidora pública”, frisa.
Em 1993, Marcela se tornou gerente-administrativa da Rádio e TV Educativa, então vinculada à Secretaria da Cultura, e em janeiro de 1995 assumiu a chefia de Recursos Humanos da pasta, onde está até hoje. “Essa é a minha trajetória, uma vida toda. Por aqui passam diretores, secretários, servidores, estagiários, alegrias, tristezas… O contato com as pessoas me motiva”, afirma.
Marcela conseguiu injetar interações em uma rotina que tender a ter muito papel. Ela é a figura ao estilo mãezona, a quem muitos recorrem para tirar dúvidas, contar novidades, trocar ideias e até desabafar. O acento espanhol e a fala doce vêm sempre acompanhados de um sorriso.
A sala do RH, no segundo andar do prédio histórico da Secretaria da Cultura, na Rua Ébano Pereira, em Curitiba, é particularmente aprazível para encontros, com um alto pé direito e muitas plantas, cujas regas são exclusivamente de Marcela.
“Eu conheço as pessoas até pelo jeito que elas caminham. Sou muito de escutar. As pessoas vêm e ‘se confessam’, falam da sua vida profissional, pessoal, suas histórias. Eu sou protetora, sinto que tenho de cuidar as pessoas”, conta.
Essa sensibilidade atravessa fronteiras. Quando foi ao país natal da Marcela, o advogado Danilo Buss, que trabalha com ela há mais de dez anos, ganhou a indicação de um ponto turístico em Viña del Mar, a “cidade-jardim” do Chile. Tudo parecia normal até que o “conheço as pessoas pelo jeito de caminhar” se revelou na prática.
“Chegando lá, mandei para a Marcela uma foto da rua onde havia parado o carro, apenas para indicar que tinha encontrado o ponto turístico. E qual foi a surpresa? Havia parado o carro bem na frente da casa que era da avó dela, que ela tinha dito que era próxima ao local”, recorda.
Para Buss, esse fato marcou a relação que tem com ela e que ela tem com a cultura e os recursos humanos. “Sofre com as preocupações e dificuldades da equipe, mas também tem o lindo brilho nos olhos quando as conquistas surgem”, conclui.
FUTURO – No alto dos seus 62 anos, com o aprendizado de quem teve de refazer a vida num outro país, Marcela mantém um espírito positivo para o futuro. “Me acostumei a olhar pra frente. Se você tem amor e comprometimento, a coisa flui”, diz.
A aposentadoria, no entanto, já está no radar. “Tem o apego, mas a gente já está repassando o conhecimento. Vai chegar o momento em que vou ter de me despedir e retomar a minha vida familiar”, afirma a dupla-cidadã, que só pende mais para o Chile em jogo de Copa do Mundo.
Quando encerrar a trajetória no serviço público, os planos são se dedicar aos cultivos da sua chácara e ao casamento tão longo quanto a carreira. Marcela é casada há 41 anos com o filho de imigrantes sírios Camilo Brahim, com quem tem o filho Diego (38) e o neto Cadu (3 meses). Outra união que deu certo.
O sentimento será sempre o de gratidão. “Toda a minha vida eu devo a esse trabalho. É uma gratidão enorme. Conseguir compartilhar com as pessoas, entendê-las e respeitá-las. O meu trabalho me ensinou isso. A gente não pode tentar mudar as pessoas, mas tentar entender elas na sua plenitude”, completa.
Antes de sair, porém, ela encampou a missão de estruturar a nova Secretaria de Estado da Cultura. “Me emocionei bastante com esse desmembramento porque eu respiro cultura. Quando a Elietti (diretora-geral) me mostrou o organograma eu disse ‘temos que retomar, vou estruturar os recursos humanos na Cultura’”, acrescenta.
Para a secretária da Cultura, Luciana Casagrande Pereira, ela é um exemplo claro de pessoa certa no lugar certo, “match” que quando acontece faz com que as coisas fluam com naturalidade.
“Fiquei encantada com a sensibilidade dela. Tem a característica necessária para lidar com a relação humana e o dom de encantar as pessoas. Eu me guiei muito nela porque me passou a confiança que eu precisa naquele momento para conhecer o Estado. E agora para elevar o patamar da Cultura no Paraná. Ela é o pilar da Secretaria”, arremata.
Fonte: Governo do Paraná